Família Paixão e Bahia (Foto de 1980) - Casa da Esquina à Rua José Arnaud Campos
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endo alguns comentários sobre cultura que falava
justamente da nossa história, da nossa memória, do que sobrou do passado da
nossa Araripina, o que restou para mostrar no presente?
Acho que só nos resta a cada um de nós contar a
nossa própria história e buscar em cada canto para revivê-la, dissertando e
como lume despertando quem sabe no nosso jovem contemporâneo, o prazer que por incompetência
de todos nós não podemos fisicamente mostrar a sua importância.
O Blog Princesa do Araripe, foi criado nesse
intuito.
Em 1978, morávamos numa casa de
esquina (foto) na Rua José Arnaud Campos. Tinha apenas um quarto e dormíamos
em redes que eram armadas todas na sala, o que ficava parecendo um emaranhado
de cordas e entrelaçados. No tempo frio, por falta de lençóis que em tamanho se
cobria a cabeça, descobria as pernas, era um sofrimento só. Pode imaginar como
era a situação. Se chovia as goteiras faziam da casa um alagadiço e a noite
para dormir, além do frio, éramos obrigados a desviar dos pingos de chuvas. A
minha rede tinha um buraco por onde escorriam os pingos de “mijo” e no tempo
frio, o ensopado ajudava ainda mais a aflição. As paredes eram decoradas com
armadores, feito de barra de ferro 5/16 contorcido e fixado com cimento (meu
pai trazia os pedaços já dobrados com formato de torno das construções que trabalhava). Armador
(ou torno) para rede era coisa pra rico. A maioria das roupas que nos vestia,
além dos sapatos (cavalo de aço) que sobravam em nossos pés, doados pelos
filhos dos ricos (usávamos o velho e antigo papel de pão no bico dos mesmos para apertá-los), eram doadas por pessoas das quais a nossa “mãe” trabalhava como
diarista (empregada doméstica ou trabalhadora de casa de família). Também
servíamos como meninos-placas de propaganda política, quando recebíamos em
nossas casas sacolas de camisetas estampadas com as figuras dos candidatos dos
figurões políticos da época. “Agora estão todos vestidos, graças a nós” – era o
que mandavam dizer. E como não tínhamos outra opção, aquilo era um momento de
júbilo e satisfação.
Paulo de Seu Jota (de verde), Jotinha (Irmão de Lêda de Camisa Rosa), Welligtons, Itinho, Arimateia, Eu (de braços cruzados) Gorete de Vestido azul (minha irmã), Diana e os dois moços paulistas. (Foto Arquivo de 1980)
Comprava-se colher de café, de
açúcar, de sal, de óleo, dente de alho...
... nas Bodega de Seu Juvenal, de Seu
Pedro, Seu Mané Lúcio, Dona Júlia (uma mãe para todos os filhos párias da
redondeza – Rua da Padre principalmente).
Brincávamos de bola na rua e usávamos
duas pedras ou chinelos, para servir de traves para o gol. Quando não tinha bola
brincávamos com garrafas vazias de água sanitária (quando encontrávamos uma,
porque naquele tempo tudo era reciclado). Quando acertávamos no bico da garrafa
a dor era insurportável.
Dormíamos abraçados com um bola
canarinho ou dente-de-leite, furada (quem podia comprar uma bola nova?) e
muitas vezes jogávamos com ela praticamente “amassada”. Quem nunca assoprou no
“pito” de uma bola para enchê-la de ar com a boca no meio de uma pelada? Mão,
gritava os moleques – não vale, a bola precisa encher.
Também apanhei muito por gostar do
esporte, porque muitas vezes ultrapassávamos a hora limite estipulada por nossa
mãe – chegar antes do pai – perdíamos quase todos os dias o horário marcado e a
primeira coisa que ele fazia era olhar para os nossos pés. A saliva ou o
“cuspe”, não dava para passar nos pés todos, e aí a “peia” com corda em duas
dobras era certa.
E os brinquedos? Os carros
confeccionados com latas de óleo e pneus de sandálias velhas que eram
encontradas no lixo (coisa rara), e muitas outras invenções que fazia com que
fôssemos criativos pela necessidade da época. Tudo tinha que ser inventado.
Caí no poço, esconde-esconde, mão-no-bolso,
bate figurinha (pagas com carteiras de cigarros vazias – que funcionava como
moeda), boca de forno (faz tudo que o mestre mandar), carimbada, jogo de bila
(bole de gude que tinha que ser retirada de um círculo), bolinhas de sabão, estátua,
ioiô, passa anel, peteca, roda pião, três três passarás, túnel, as cavernas que
eram feitas no emeranhado do matagal (logo ali por trás do CERU), jogos de pedrinhas
(foto), e tantas brincadeiras que fica num passado bem distante, mas nos trazem
muitas saudades. Eu brinquei de tudo isso.
Imagem Ilustrativa
Portanto eu vou contando aqui um
pouco do que vivi, porque uma vida se faz de história e essa hiistória tem
muito a ver com a cidade onde nascemos e crescemos.
A vida não é moleza, mas bom mesmo é ter
história para contar. Isso dar uma saudade e justamente hoje (12), DIA DA
CRIANÇA.
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